Hoje, dia 12 de dezembro, os estúdios da RedeTV Karajás e da Rádio Shalon 87.9 Fm receberam dois representantes do acampamento Oziel Alves Pereira, onde atualmente se encontram alojadas algumas centenas de famílias ligadas ao MST.
Por volta do meio-dia Alessandro Braga, mais conhecido entre os militantes por seu sobrenome, participou do programa Sala de Imprensa, apresentado por Marinês Batista na emissora de rádio canaense Shalon 87.9 Fm.
Durante o momento de entrevista, o convidado foi desafiado a responder alguns questionamentos feitos pela apresentadora, pelos ouvintes e por um estudante de jornalismo da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA).
A princípio, Braga discorreu sobre os motivos que os levaram a interditar por dois dias a Estrada de Ferro Carajás, disse que a ação visou chamar atenção do poder público federal e estadual para as reivindicações do movimento, pois, sem esse tipo de intervenção, infelizmente, o MST não é devidamente ouvido.
O resultado do protesto nos trilhos da ferrovia foi a convocação de uma mesa de negociação entre representantes do MST e a empresa de mineração Vale S.A.
Essa mesa de negociação, aconteceu no assentamento Palmares durante a sexta-feira do dia 06, foi mediada pelo INCRA, e contou com a participação de Cláudia Maria Dadico, diretora de mediação e conciliação de conflitos agrários do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).
Nessa negociação, conforme Braga, uma das pautas levadas pelo MST foi devolução de mais de 24 mil hectares na região que atualmente estão em posse da mineradora. A empresa Vale, por sua vez, se comprometeu a avaliar as reivindicações do movimento, entre as quais se destaca a compra de mil Hectares para a ocupação das famílias que se encontram atualmente na PA 160, à altura do km 34, próximo a fazenda Boi Gordo.
Pouco tempo depois da entrevista na Rádio, Braga, junto ao seu colega de luta Andrio Vieira, apareceram ao vivo no Jornal da RedeTV para outra entrevista, dessa vez com a jornalista Adriana Rodrigues.
Durante a participação no Jornal da RedeTV, Braga salientou sobre a desinformação que alguns veículos de comunicação promovem e disseminam contra o movimento, de acordo com ele esse tipo de ação alimenta o imaginário da população de forma negativa, fazendo com que a opinião pública os tenha como monstros, quando na verdade são apenas trabalhadores que objetivam a democratização do acesso à terra em um país que posterga a reforma agrária há muito tempo.
A dupla também fez um apelo ao poder público municipal para que este se comprometesse a auxílio às famílias do acampamento Oziel Alves Pereira, pois, elas estão necessitando de acompanhamento no âmbito da saúde e da educação.
Ao final das participações, os convidados afirmaram que, no que se refere às combinações mantidas durantes a mesa de negociações, o movimento aguardará o cumprimento das ações assumidas pela Vale S.A. até o mês de março de 2025.
Um pouco mais sobre o movimento
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) surgiu em 1984, a partir do Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra, que aconteceu na cidade de Cascavel, no estado do Paraná.
Numa época em que o Brasil já vivia o processo de redemocratização, posterior à ditadura militar, o movimento nasceu com o objetivo de lutar pela democratização do acesso à terra por meio de uma reforma agrária nacional.
Um dos momentos mais marcantes da luta do MST nessa região, foi o Massacre de Eldorado do Carajás. Com repercussão internacional, o episódio aconteceu em 1996 e teve como resultado as mortes de 21 camponeses, dentre as vítimas estava Oziel Alves Pereira, que hoje é homenageado no nome do acampamento onde Andrio, Braga e centenas de famílias residem provisoriamente.
Segundo dado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 70% dos alimentos que chegam aos lares brasileiros provém da agricultura familiar, o MST é referência nessa modalidade de agricultura, chegando até mesmo a liderar por muitos anos o ranking de maior produtor de arroz orgânico da América Latina, segundo o Instituto Riograndense de Arroz (Irga).